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  • Marcos Sarvat

2020 - PERGUNTAS URGENTES de um médico

Quietos em casa e atentos a tudo, sigamos firmes sem deixar o pânico dissolver nossa capacidade de pensar, discernir e tomar decisões sensatas!

Tudo é novo e de (aparente) grande proporção, logo, pensar grande e de modo criativo se faz mais do que nunca necessário, ou melhor, vital. Portanto, o ato de pesar quais conhecimentos e práticas atuais podem e devem ser aplicadas exigirá o máximo da nossa espécie. Elaborar Ciência significa formular as perguntas certas e buscar as respostas mais verdadeiras. Nessa linha, revejo meu tempo de escola dividido em dois períodos: antes e depois de perder a vergonha de perguntar. Foi quando percebi que por mais estranha e idiota que fosse a minha questão, sem exageros, claro, sempre a maioria da classe não sabia a resposta. Foi ficando cada vez mais claro que riam não de mim, mas inconscientemente do ridículo de si próprios, encobrindo com gracejos sua própria ignorância e insegurança. Daí nunca percamos tempo em elucubrações sobre “o que vão achar”, e perguntemos logo, após pensar e repensar um pouco, mas não muito. Os ídolos são quase todos de barro, e a empáfia dos pretensiosos se desfaz na primeira sacudida. Dirão: menos teoria ou filosofia, e mais prática! Afinal, temos um gigantesco desafio pela frente! Entretanto, sigo a recomendação centenária de sempre tratarmos os problemas mais complexos como sendo simples (com confiança, dedicação e ousadia), e os fáceis como sendo difíceis (com atenção, cuidado e capricho). Mostra-se oportuno apresentarmos algumas considerações e perguntas de ordem essencialmente prática. Como disse, mesmo que pareça tolice para alguns, não o será, confio, para a maioria. Como médico usei o EPI (equipamento de proteção individual) e me senti seguro para trabalhar com pacientes portadores de COVID-19: gorro, máscara N95 ou PFF2, óculos largos ou proteção facial (escudo) e luvas. O avental-capote impermeável de mangas longas dá uma sensação de segurança, mas não seria essencial, a não ser para atos mais invasivos, como consulta ORL-CCP ou manipulação da via aérea. Estou certo? A única forma de saber com grande certeza quem esteja (ou não) contaminado (e contaminando outras pessoas) é realizando o teste de PCR (coleta de secreção nasal e orofaríngeo). Que pode ter falhas. Estou certo? O exame radiológico simples de tórax pode não demostrar muito do que exista (frequente falso negativo) e a tomografia computadorizada (TC) de tórax é excelente método diagnóstico, imediato, podendo em 10 minutos revelar intenso comprometimento pulmonar no doente com poucos sintomas e por outro lado demonstrar poucas alterações no que sente falta de ar mais intensa. Ou seja, é excelente para casos graves, mas a correlação clinico-radiológica não é constante. Estou certo? Não conseguimos apontar exatamente quem dentre os saudáveis, sem queixas, seja portador do COVID-19, a não ser se pudéssemos testar todos pelo PCR, o que teria custo muito alto, mas permitiria isolarmos menos gente sem doença e focarmos nos que podem disseminar, e poderíamos ser bem mais eficazes em evitar contaminações nas famílias e grupos. Afinal, isolar uma pessoa num grupo familiar é difícil. A não ser aplicando nela ao menos máscaras e luvas. Estou certo? Mas se não temos como testar toda a população e se a TC aponta os casos de maior gravidade, podemos concluir que devemos considerar toda a população como portadora (sadia ou doente, não importa), até prova em contrário. Mais claro: qualquer pessoa é suspeita. Estou certo? Sobre índices de mortalidade: se um país testa poucos cidadãos, focando nos sintomáticos e mais graves, sem obter exato levantamento do total de infectados-portadores, terá proporcionalmente uma mortalidade alta, por exemplo da ordem de 10 a 15%, dos quais 99% são idosos e grupos de risco. Exemplo: Itália. Estou certo? E ao contrário, se um país testar sua população de modo a poder estimar com precisão estatística o número de infectados, doentes ou não, apontará que a mortalidade é baixa, em torno de 1%, a grande maioria também de idosos e grupos de risco. Exemplo: Coreia do Sul. Estou certo? Estima-se que países como Itália, China e Brasil tenham 15 vezes mais casos de infectados (sadios ou não, mas no máximo casos leves) do que os diagnosticados por testagem. Se isso for verdade, a mortalidade da Itália é de 1%, idêntica à da Coreia. Estou certo? Então, de cada 1.000 pacientes diagnosticados temos 14.000 assintomáticos ou com leves manifestações, em casa e sem saber que são portadores, possivelmente convivendo com pessoas idosas e grupos de risco. Estou certo? E mais, se todos são suspeitos e os idosos e de risco são os que mais podem sofrer manifestações graves, protegê-los com EPIs (o tempo todo, em casa se houver outras pessoas ou fora dela), seria muito mais eficaz e muito mais barato do que decretar esse confinamento de todos. Estou certo? E mais, se todos, idosos, grupos de risco ou não, sempre que forem às ruas, usarem EPIs, respeitarem distância de 1 metro um dos outros, evitando aglomerações sem proteção, adotarem para sempre o hábito de lavar as mãos muitas vezes ao dia, etc, etc, estaremos todos protegidos, e a propagação reduzirá a níveis “razoáveis”, e cessará o impacto sobre os sistemas de saúde. Estou certo? E se isso for feito, precisaremos empregar emergencialmente recursos na obtenção maciça de EPIs, ativando o parque industrial de modo acelerado, em regime de guerra, dia-e-noite, e na infraestrutura para atendimento intensivo (internação e CTI) para os casos graves, que certamente irão decrescer rapidamente. Estou certo? E seguindo essa conduta, a circulação de pessoas que não sejam de grupos de risco, usando EPIs, dos trabalhadores e estudantes em geral, garantirá o retorno da maior parte das atividades econômicas com segurança, evitando o apocalipse inevitável se seguirmos nesse rumo do abismo e da incerteza. Estou certo? E por exemplo: testando a segurança na redução do espaço entre pessoas, de uma forma adaptada e protegida poderíamos ir ao teatro com EPIs, no avião, trem, ônibus e táxi, na escola, faculdade, consulta e feira, nos parques, praias e estádios. Já nos restaurantes, com menos mesas obteremos a sonhada distância para conversar com privacidade, correspondendo à proteção necessária (sem máscaras). Estou certo? Clamo que raciocinemos e foquemos em garantir a saúde e o sustento da maior parte das pessoas que nos for possível. Sabemos que nada agrada aos utópicos, exigem uma perfeição que não existe. Gostaríamos todos que ninguém sofresse ou viesse a sofrer dessa gripe chinesa. Mas não culpemos (espero!) o socialismo ou o comunismo. Nem sejamos ridículos de condenar a globalização, o capitalismo ou a meritocracia (juro que li tal barbaridade). E muito menos apontemos uma manifestação da ira divina ou ação de vingança de um planeta vítima de abuso ou assédio, conjugando uma oportunista salada viral eco-ideo-sacra... Em suma, passemos já todos nós a andar de máscaras N95, luvas e óculos de proteção, higienizemos tudo à volta, mantendo distância. Aposentados, em geral idosos e grupos de risco, mantenham a restrição até reduzirmos o problema. Quem puder trabalhar em casa, assim faça. E que sejam retomadas já as atividades essenciais para evitarmos a falência geral das empresas e da nação. Sabemos que essa interrupção do trabalho, restrição e confinamento é inviável a médio e longo prazo, e o que está se armando como sendo a melhor estratégia, pode ser a pior possível, global e localmente. Frisando, concentremos esforços na produção de EPIs, e retornemos todos, usando-os, ao comércio, indústria, transportes, serviços e funcionalismo. Retornemos às consultas protegidos, em cardiologia, dermatologia, etc. Os pacientes que necessitem de consultas de otorrinolaringologia, cirurgia de cabeça e pescoço, oftalmologia, endoscopia digestiva e respiratória e tratamento odontológico, devem ser testados prioritariamente para cumprirmos as medidas mais adequadas de segurança. Cirurgias eletivas devem ser adiadas, para não ocuparmos leitos hospitalares nesse momento, mas os que precisem ser operados também devem ser testados. Ouçam os médicos. A história da Medicina é plena de erros graves e acertos fantásticos. Aprender com os erros é a base do progresso, e infelizmente alguns acumulam vícios e não verdadeira experiência, que nasce do estudo e se consolida na prática. E cuidado com dogmas e sofismas, entre eles que a preocupação econômica não seria humanitária: As empresas empregam e pagam salários e impostos. Se não houver circulação de pessoas, se trabalho e produção são interrompidos e os salários e as contas de cada um não puderem ser pagos, o estado não terá condições de sustentar a todos, o que confirmaria que o tratamento terá sido pior do que a doença. Primum non nocere! Dessa vivência histórica extraímos um conceito que poderá chocar os puristas negadores da realidade de fatos: Queiramos ou não, temos por vezes que enfrentar dilemas inevitáveis, cruéis escolhas entre o ruim e o pior, que rasgam nosso destino e nos impõem sofrimento, limitações, perdas e morte. A boa raiva da doença e da morte (o inverso mais pleno e distante da insensibilidade), pode em algum momento nos obrigar a amputar membros e órgãos como a laringe, mutilando a voz e o pescoço de uma pessoa para preservar sua vida. De modo semelhante, nossa sociedade arrisca, se não tomar já as atitudes mais ágeis e sábias, ser em breve imposta pela natureza numa mesa cirúrgica, e sem poder contar com aplicação de anestesia...

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