O dia 18 de outubro estimula reflexões sobre o exercício da Medicina, e os crescentes dilemas e desafios trazidos por "irresistíveis" inovações como teleatendimento e IA. Previsões e especulações oscilam entre boas e péssimas expectativas para formas de trabalho e interferências na sagrada (?) relação com o paciente. Considerando a realidade assistencial, nitidamente artesanal, soa naturalmente difícil a aplicação de protocolos e rotinas inflexíveis, que, sendo impensada ou abusivamente impostas, arriscam burocratizar o acesso e desumanizar o processo. Infelizmente, exemplos não faltam.
No setor público, o sistema de regulação – gerenciador da espera do Sistema Único de Saúde (SUS), segue insensível a particularidades, como inserir numa mesma fila para diagnóstico tabagistas com rouquidão (com alto risco de câncer e/ou indicações cirúrgicas) e pessoas com sintomas vagos e alterações benignas. Ou seja, pacientes que deveriam ser cuidados de forma prioritária sofrem absurdo agravamento de suas moléstias em filas genéricas, sem o devido filtro, e a fiscalização da ordenação de seu fluxo insiste em não enxergar essa necessidade, e até se dedica a inibir quem ouse discordar. E grave, a defasagem tecnológica nos faz oferecer tratamentos obsoletos ou distantes do possível e do ideal a uma população carente e sem voz.
No setor privado, as operadoras, mal reguladas, se debatem entre má gestão, necessidade natural de lucro e uma infindável criatividade em restringir acesso, infernizando médicos e pacientes, contando com atendentes, análises e retardos virtuais, desumanos e implacáveis, interpostos no momento da doença, quando a fragilidade é máxima e a reação mínima. Simplesmente tripudiam, se negando a prestar o devido acolhimento. A supressão da liberdade de escolha, do justo reembolso e dos planos individuais e hospitalares (os mais vantajosos) é sintoma da degenerada e inconsistente pirâmide em que se baseiam planos e seguros de saúde. A necessidade de fiscalização pune mais os justos do que detecta os que fraudam. Se negam à lógica, e seguem surdos.
Como se não bastasse, a base de formação de novas gerações é assolada pela multiplicação de escolas de baixa qualidade, que gera profissionais que adotam frases como "Faz residência quem não se garante nas redes sociais" e executam patéticas manifestações virtuais que, pasmem, coletam milhares de seguidores de perfil patológico, caracterizado por atração por bobagens constrangedoras. Respeite-se sempre o direito à mais e mais informação, mas há que se exigir precisão e bom-gosto. Ou vale tudo, num ambiente disfuncional onde o mais chocante ganha mérito e consagração popular? Recomenda-se que os cidadãos desenvolvam mais senso crítico e assumam sua responsabilidade na orientação do mercado, e clama-se que os conselhos fiscalizadores superem o corrosivo corporativismo e coíbam os que extrapolam noções básicas da ética.
Ah, e sobre Inteligência Artificial, confira o que gera a pergunta "Quais são os riscos que a IA traz à relação médico-paciente?”. A seguir, sua resposta sábia e aviso oportuno!
Marcos Sarvat é médico otorrinolaringologista e professor da UNIRIO 18/10/24
ChatGPT responde:
A introdução da inteligência artificial na medicina pode trazer diversos benefícios, mas também apresenta riscos que podem impactar a relação médico-paciente. Aqui estão alguns dos principais riscos:
1. Despersonalização do atendimento: A IA pode levar a uma abordagem mais mecanizada, onde a interação humana é reduzida. Isso pode fazer com que os pacientes se sintam menos valorizados e menos ouvidos.
2. Falta de empatia: A IA não pode substituir a empatia e a compreensão que um médico humano pode oferecer. Isso é crucial para o conforto e a confiança do paciente.
3. Dependência excessiva: Médicos podem confiar demais em sistemas de IA para diagnósticos e decisões, o que pode levar a erros se a tecnologia falhar ou interpretar dados incorretamente.
4. Preocupações com a privacidade: O uso de IA muitas vezes envolve o processamento de grandes quantidades de dados pessoais de saúde, o que pode levantar preocupações sobre a segurança e a privacidade das informações.
5. Desigualdade de acesso: A implementação de tecnologia de IA pode criar disparidades no acesso ao cuidado de saúde, favorecendo
pacientes que têm mais recursos ou que estão em áreas urbanas.
6. Dificuldade em construir confiança: Pacientes podem hesitar em confiar em decisões que envolvem IA, especialmente se não entenderem como a tecnologia funciona ou se sentirem que suas preocupações não estão sendo consideradas.
7. Risco de viés: Sistemas de IA podem perpetuar preconceitos existentes se não forem treinados com dados representativos, resultando em diagnósticos ou tratamentos inadequados para certos grupos.
É essencial que a implementação da IA na medicina seja feita de forma cuidadosa, mantendo sempre a comunicação e a empatia como pilares da relação médico-paciente.
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