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  • Marcos Sarvat

2020 - Enfim, a Vitória da Razão e da Ciência


Os otimistas sobre o futuro da Humanidade podem comemorar. Os que clamavam pelo domínio da Razão, do Humanismo e da Ciência podem, mas não devem ainda, sair às ruas e soltar fogos; que em data oportuna festejem correta e discretamente. Grande parte das vozes, em especial as mais exaltadas, radicais e angustiantes que temos ouvido em todas as mídias, se originam das mais irracionais, contraditórias e belicistas ideologias e religiões, cujas trevas, confrontadas pela realidade dos fatos, começam enfim a se desvanecer. Ouçam bem este “Manifesto Explicativo”, pois o ruído desta iminente demolição há de chegar a todos, numa pacífica e construtiva mudança, determinante de um Novo Tempo. Toda questão possui vários lados, apesar disso o ser humano parece ter sido programado para sempre tentar resumir tudo em dois lados: o que ele aprova e aceita – e o que reprova e rejeita. Talvez isso ocorra por ter que se preparar para lutar por um dos lados, cumprindo seu vital instinto de sobrevivência em que a vida tribal o obrigava a participar de um combate. E, ao que se sabe, não ocorrem guerras entre três grupos, sempre temos um contra outro: um certo contra um errado, ambos dizem. E o vitorioso pode vir a se dividir logo após derrotar o inimigo principal, e iniciar uma nova guerra. Assim foi quando os socialistas-comunistas se desentenderam com os socialistas-fascistas, e nessa confusa briga de família foram envolvidas as democracias do ocidente, se unindo com os comunistas russos para derrotar seus primos fascistas alemães e italianos e mais os monarquistas japoneses. Algo confusa, admitamos, essa ancestral e atávica disposição individual e coletiva para a guerra, que se manifesta permanentemente, seja de modo físico, com armas e sangue, ou de forma diplomática, ideológica-publicitária ou comercial (ou agora, biológica?), em que mercados e acordos são feitos, vantagens e desvantagens são impostas, e caso rejeitados o mais forte poderá empregar argumentos bem mais duros. Ameaça feita, obedece quem deva, pesando as consequências. E, detalhe curioso, em geral não há volta: feita a escolha por um lado, mesmo se estiver “errado”, o ser humano tende a persistir no erro e negar qualquer validade a argumentos, evidências ou provas de que a Verdade seja diferente daquela que defenda. Mesmo que se tornem desumanos e compactuem com condutas imorais, crimes ou genocídios, muitos preferem manter a defesa da grande Causa ou do grande líder (mesmo que rei nu e corrupto), garantir a aprovação e proteção pelo grupo e evitar se expor à crítica ou ostracismo – e seguem convictos de sua independência e autenticidade, fazendo exatamente nada mais nada menos do que o que se espera deles, ou seja, coerência estúpida e acrítica, a tal autocrítica quase zero. Há talvez que se respeitar as humanas limitações de caráter, e admitir que não seja fácil fugir da corrente, por mais cruel e irracional que seja. Aliás, quem não prefere a empolgação da certeza, ao invés da (quase permanente) angústia da dúvida? E existem muitas envolventes correntes, dentre as quais se identificam algumas, aqui esquematizadas e um tanto estereotipadas neste roteiro, ciente das variáveis, nuances e atenuantes que podem ser apontadas em cada item. A corrente das religiões, com suas centenas de crenças, baseadas sempre em dogmas decretados por seus criativos precursores. Reafirmamos a liberdade de crença (e de descrença), pois mesmo destacando a impossibilidade de obtermos alguma prova confirmatória, cada pessoa tem o mais pleno e indiscutível direito de acreditar no que quiser a respeito da atraente e reconfortante hipótese da transcendência. A questão crucial surge quando uma opinião ou critério individual sobre a existência (ou não) de Deus, deuses, planos, esquemas, energias e forças é tornado obrigatório aos demais membros da comunidade, e por decreto empacotado com ritos, vestimentas, mímicas, atitudes e obrigações morais e sociais no mínimo curiosas. Seria muito útil e respeitoso que guardassem sua fé para si e para os que, ao ver seu exemplo de vida, manifestassem desejo de se aprofundar na sua crença. Mas que jamais ousassem exigir ou constranger quaisquer outras pessoas para que sigam sua opção religiosa, poupando-as de apologias e evangelizações. Como exemplo do poço onde se pode chegar está na parcela de islâmicos que inocula e dissemina sistemática audácia de abominar e agredir os chamados infiéis. Aliás, essa imposição de modas e hábitos tribais parece a norma dentre os crentes, e de alguma forma também entre os descrentes, algo como: Pense, creia (ou duvide) exatamente como eu, que serás premiado com vida farta e algo à altura depois da morte. Entretanto, se não me seguires, sofrerás na Terra e algo pior ainda, após a morte, por toda a eternidade. Em geral, por bem ou por mal, articulados e convincentes, sempre tornaram uma postura de dúvida ou descrença no mínimo arriscada, com as consequências podendo ir do desprezo ao banimento ou do desemprego à fogueira. Algo que sempre chama a atenção nesse processo é o grande dispêndio de tempo e recursos na “estrutura de adoração e gratidão”, contrastando com uma menor ajuda ao próximo em aspectos concretos de sua vida, que o libertasse da caridade alheia. Templos para agradar (ou subornar) um deus que seria de pura Bondade, mas cujas alegadas ordens incluiriam discriminação, consequências sérias e punições em vida ou após a morte aos não seguidores; podendo até carregarem culpas inconscientes para outras vidas. De fato, tolerância com o diferente (quase) sempre foi a exceção neste contexto. A corrente de ideologias de esquerda, com sua jurada prioridade na Sociedade, acredita na igualdade congênita. E se a realidade não combina, mude-se a realidade. Diferenças de caráter, competência, dedicação e mérito não confirmam a tese, e devem ser ignoradas ou desqualificadas como mero resultado de privilégios, golpes, descendência de famílias corruptas e exploradoras, poder econômico, etc. Atrai porque reforça a ideia de Estado paternalista, que cuida de tudo e reduz a ansiedade de se ter que lutar pela própria vida, e mantém as pessoas niveladas numa zona de conforto, interrompendo a sua natural competição e o stress consequente. Sendo ou não competente e dedicado, seus direitos de cidadão e de obtenção de retorno são iguais ou nivelados, o que a muitos parece justo. E assim ganha adeptos inconscientes do seu conteúdo, talvez mais por rejeitarem a direita, a seu ver defensora de ambição desmedida, ganância e uma concorrência de vida ou morte, do que por convicção. Afinal, são em geral marxistas que não leram Marx, Engels ou Gramsci, manipuladores dos bons e maus sentimentos das massas, e entendem o indivíduo como destinado a ser um obediente soldado a serviço da Sociedade, conforme padrões e regras que os iluminados líderes definiram como sendo bem comum. Fantasiam de democracia um partido único, e em prol da defesa contra o capitalismo e o imperialismo capitalista, exercem um imperialismo capitalista de Estado. Algo como: Não irão nos explorar! Nós mesmos nos exploraremos! Carregam em suas histórias o fato de todos terem sido gerados e empoderados por terem conseguido exercer discordâncias, manifestar opiniões e organizar mobilizações populares, mas, assim que assumem um governo, suprimem quaisquer possibilidades de mudanças em suas nobres dinastias, chance de oposição e liberdade de imprensa. E logo tornam indistinguível a diferença entre seu partido único (ou escandalosamente majoritário), o governo e o Estado – se tornam uma só estrutura, deixando expresso que se manifestar ou agir contra ela representa uma traição à mãe-pátria. E se expandem exercendo um imperialismo ditatorial que ousam denominar república, vide URSS e China. Através de estreita vigilância de mentes e corpos de pessoas, empregam todos os meios a seu alcance, em especial os mais violentos, para garantir sua eternidade no comando da distopia, e ao final, aqueles “esclarecidos” que vieram para defender o bem-estar, infernizam a todos através do medo e da falta de liberdade. Nada mais perigoso do que um estado socialista, seja nazifascista ou comunista, pois o autoritarismo e o dirigismo, embutidos numa educação ideológica massificada e prolongada, tornam o povo cordato e a administração muito eficiente (embora nada progressista), já que dispensam debates e conciliações de interesses e desejos mais amplos. Povo marcado, povo obediente, povo feliz!? E isso se agrava com a recente aplicação de instrumentos tecnológicos de tortura, digo, de controle da Sociedade, que adiam o inevitável: a ruptura interna e destrutiva de todo esse aviltante sistema. Toda colmeia comunista termina sendo rasgada e dissolvida, e raramente de modo pacífico, pois por mais que tentem isolar os cidadãos, limitando comunicação, contato e circulação de pessoas e ideias, o contraste com a vida nos países democráticos progressiva e inexoravelmente perpassa o país pelas mentes mais jovens, abertas e contestadoras. Assim, torna-se prioridade romper com o “estado insuportável das coisas” e estabelecer mudanças que permitam que todos respirem, vivam e se expressem sem a “imposta rede protetora” de um Estado que, baseado numa suposta defesa da Justiça Social, revela-se profunda e uniformemente sufocante e autoritário. Satisfeitas as necessidades básicas, todos querem mais, muito mais. De fato, tolerância com o diferente (quase) sempre foi a exceção neste contexto. A corrente de ideologias de direita, com seu foco no indivíduo, se dedica a defender os bons costumes (seja lá o que isso for), os hábitos e tradições de cada pessoa ou grupamento. Atrai porque protege do desconforto e da insegurança de ter que se adaptar o tempo todo a algo novo e do esforço de proteger ou melhorar as condições atuais. Nega a multiplicidade de culturas e a constante troca e absorção de novos modos de pensar, agir e viver, e pior, parece desconhecer o fato de que nunca existiu nem existirá em momento algum da História uma uniformidade de pensamento ou estabilidade social. Renitente, insiste no erro de rejeitar as permanentes permeabilidade e instabilidade. Luta pela distopia da “impossível conservação”, pois tudo muda, cada pessoa, cada relação, cada inovação inevitavelmente interfere no todo. E como a maior parte das pessoas prefere permanecer numa eterna zona de conforto, ser protegida de mudanças culturais e sociais, ganha adeptos inconscientes do seu conteúdo, talvez mais por rejeitarem a esquerda e sua anulação maciça do indivíduo e estímulo à inveja inativa, do que por convicção. Uma Sociedade ideal, a seu ver, deve priorizar o respeito a cada uma das pessoas que a compõem em suas particularidades, valorizando sua personalidade. Promovem a livre iniciativa, a liberdade de expressão e as organizações da sociedade civil, mas na sua visão planetária acabam por se contradizer, e insistem na rigidez de fronteiras geográficas, emocionais, afetivas e de costumes, favorecendo a xenofobia e o racismo (ao menos velados), pois do contrário se exporiam ao penetrante conflito de novas ideias que ameaça sua necessidade de ter tudo sob controle. Lidam bem com um mundo mais definido e estável, em que algo considerado bom não deva mudar ou ser mudado. Guardam ou cultuam valores culturais sociais e familiares que os representam. Sofrem, portanto, um risco de descaracterização de sua sensação de pertencimento e uma grande angústia de adaptação a um mundo com mudanças aceleradas em todos os seus aspectos. Sentem-se ameaçados por globalização ou globalismo, imigrações, crescente convívio forçado com diversidade de línguas, culturas e raças, expansão de diferentes relações afetivas, sociais e de trabalho, novas e numerosas formas de comunicação, como Internet e outras mídias sociais. Prendem-se ao principal dilema das democracias, em que a maioria escolhe o caminho do todo, mas parece-lhes difícil compreender como conciliar este correto exercício de democracia com o respeito às minorias e os próprios indivíduos. De fato, tolerância com o diferente (quase) sempre foi a exceção neste contexto. Vale destacar um conceito interessante sobre palavras. Conservador é aquele que deseja conservar algo. Tudo que for bom, ninguém discorda, deve ser conservado. Ou não? Mudanças devem ocorrer e por vezes coisas boas precisam ser alteradas. Talvez por serem boas apenas para um pequeno grupo, e não para todos, ou porque o custo de mantê-las se tornou inviável. Da mesma forma, todos somos progressistas, afinal, todos queremos usufruir das novidades e avanços trazidos pelos conhecimentos de todas as áreas, como por exemplo, Biologia, Medicina e Tecnologia. Mas existem mudanças que não são consideradas boas, nos parecendo impostas por interesses econômicos, ideológicos ou sociais com os quais podemos não concordar; e as aceitamos, ou deveríamos fazê-lo, pois estamos em Sociedade, para o bom e para o ruim, ou não tão bom. Revela-se muito curioso (ou explicitamente mentiroso) que ainda insistam em tentar “vender” Socialismo-Comunismo, essa teoria tão antiga e malsucedida na prática, extremamente dogmática e conservadora, uma mistura de mitos e crenças em outro mundo, como sendo algo progressista. Da mesma forma, nada pode ser tão irreal e impossível quanto pretender ser conservador num mundo tão misturado e acelerado. Portanto, podemos e devemos embutir num mesmo balaio de desprezo e inconsistência tanto os chamados conservadores quanto os progressistas. Trata-se de uma denominação que assume, isoladamente, um rótulo depreciativo para ambos, quando na verdade, se pensarmos bem, todos somos, ou devemos ser, cidadãos simultaneamente conservadores e progressistas. Não temos escolha: o mundo em que vivemos, queiramos ou não, é e sempre foi, conservador e progressista. E que siga assim! Há que se interrogar como e por que alguém consciente de todas essas características reais e históricas, totalmente impregnadas nas correntes acima, ainda consegue se manter como defensor dessa proposta de “futuro-passado” para a Humanidade. Alertaria simplesmente que pode não ser isso que lhe prometem, mas é isso que lhe entregam. Se algo começa certo, pode desandar, mas se já começa errado, nunca se acerta. E se alguém adota a esquerda por asco da direita, ou vice-versa, e só para ter um lado, e não se informa sobre outras opções bem melhores, atrasa a solução. Mais trágica ainda é a incoerência dos que condenam justa e ferozmente as atrocidades nazistas, a ponto de proibir qualquer manifestação a respeito, tornando-as crime, e toleram que a intolerante e intolerável pregação do comunismo e dos radicais de direita seja realizada, oficializada em programas partidários, editoriais, publicações, sites e etc., etc. Difícil explicação. Choca-nos também o enriquecimento de donos de templos às custas de isenções fiscais, redes de comunicação e do direito de concorrerem a cargos eletivos, promovidos por suas mentiras e hábil exploração dos cidadãos cultural e emocionalmente hipossuficientes; tais fatos deveriam nos escandalizar igualmente, a ponto de mudarmos as leis. Liberdade de expressão de modo algum é um conceito absoluto, e certamente deve ser melhor relativizada. Atente-se também à forma como estas correntes extremistas e intolerantes sempre trataram homossexuais, mulheres, indígenas, diferentes crenças e ideologias e minorias étnicas em geral. Observe e reflita: abordam temas como liberdade, racismo e emigração de forma cínica, construtiva, oportunista, repressora ou são indiferentes e fogem ou desvalorizam o assunto? Nada nos convence de que não estejam apenas exercendo mais uma tática dissimulatória, empunhando tais bandeiras eventual e recentemente, por oportunismo, e mantenham incólume sua forte raiz discriminatória. Baseados nas respectivas características próprias dos radicais, eles montam grupetes muito convincentes e persuasivos, de onde quem entra, “não sai vivo”, ou seja, se mudar de opinião é um traidor, e para o time do “outro lado” seu passado o condena à eterna suspeição. Interessante notar que esquerdistas ou direitistas moderados assumem uma postura claramente liberal, conforme detalharemos a seguir, em quase todos os aspectos, em especial no mais importante, ao assumir que instituições públicas e iniciativas privadas não se excluem, e, pelo contrário, podem e devem conviver de modo a aglutinar e fomentar esforços construtivos. Se uma pessoa não se identifica com nenhuma das três correntes, há que considerar outra opção, que aliás é claramente, ouso opinar, a que albergaria a maior parte dos cidadãos. Aliás, muitos dos que ainda estão se denominando progressistas ou conservadores, na verdade não são de esquerda ou direita, conforme a definição que adotamos, e sim tímidos liberais enrustidos, contidos neste colossal armário bi ou tripolar. Expusemos essas três correntes de forma nua e crua para que jovens sejam melhor informados – e não enganados ou manipulados, e possam ser capazes de assumir uma consciente posição política. Os chamados conservadores ou progressistas merecem uma denominação geral de “radicais extremistas retrógrados” de direita ou esquerda. Tergiversar nessa questão ofende a inteligência de quem sabe um mínimo para ter certeza de que eles não passam disso. Pretensiosos e sem noção, pouco sabendo da complexidade da vida moderna em Sociedade, cismaram que teriam descoberto a solução esquemática final a ser aplicada. Seus ideólogos representam aquela figura perigosa que não sabe, mas acha que sabe, e, carismática, parece que sabe. Apesar de suas incoerências escandalosas e seus sucessivos fracassos persistem tentando enquadrar o planeta em seus desenhos mentais, e ainda culpam sempre o “outro lado”, tão ruim e radical quanto, por não conseguirem realizar seus sonhos, nossos pesadelos. E nesse embate non sense ocupam e monopolizam a atenção e a opinião pública com seu radicalismo circense, pleno de falsas certezas, e dificultam a percepção e valorização do moderado, real, razoável e viável, o inverso-síntese-benéfica de tudo isso, qual seja: A corrente liberal se situa de certa forma sobreposta às anteriores, delas agregando muitos valores, excluindo suas obsessões e distorções. Respeita a liberdade de crença, a separação do Estado das religiões, prega a razão e o humanismo, a tolerância com o diferente, valorizando a dedicação a ambos, Sociedade e indivíduo, como indivisível unidade e propósito. Pela sua lógica libertária do indivíduo frente às correntes extremistas de todo tipo, em especial as três supracitadas, são sempre alvo de ataques com expressões ou acusações sem provas, de que seriam insensíveis ao indivíduo, adoradores do um deus-mercado e farsantes neo-liberais ou proponentes de um tal Estado mínimo. Ora, é mais que razoável que o Estado, mantido por todos, seja o “mínimo necessário” para ser eficaz, e não esses ostensivos desperdícios e abusos que tanto nos oneram. De fato, a inconsistência simplista dos adeptos dos extremos lhes provoca um grande temor da confrontação, e rotineiramente partem para a agressão e difamação de modo a jamais se exporem à conversa ou debate mais aprofundado. É confortável para os acomodados viver sob a tutela do Estado ou sob um regime que não lhes exija autonomia ou adaptação a mudanças. E é um suplício para os criativos e mutantes, entusiasmados com a inovação e progresso físico e social, viver sob essa tutela anônima e incompetente, da forma que for. O ser humano anseia por Liberdade, e da mesma forma como o oposto de amor é a indiferença e não o ódio, e esse seja mais uma forma inconsciente de amor ressentido ou mal correspondido, os extremos tratam o liberalismo com o mesmo ódio dos ressentidos e expostos à sua mediocridade. Desta forma expressam a perturbação que sentem aos lhes ser demonstrado que é possível obter equilíbrio, manejar bem e tornar compatíveis democracia e capitalismo, livre e ampla concorrência e igualdade de oportunidades, liberdade de iniciativa e participação comunitária, lucro e visão social, empreendimentos públicos e privados, definição ideal de tamanho e foco do Estado. A alegação de que o comportamento liberal pregue um “salve-se quem puder”, “que só sobrevivam os mais fortes”, ou “acabemos com os pobres” se contrapõe na prática ao se demonstrar como a melhor forma de organizar a Sociedade e reduzir/acabar com a pobreza, multiplicando e distribuindo melhor a riqueza, respeitando a essência livre e autônoma do indivíduo, e atendendo e viabilizando o desenvolvimento de um mundo globalizado com toda a sua crescente complexidade. Certamente ser liberal pressupõe ser autoconfiante na sua capacidade de ser independente, ou seja, eu preciso do meu país, mas meu país precisa de mim tanto quanto, de nós, cidadãos adultos, conscientes e engajados. Preciso da segurança pública e da previdência social, que se promova habitação, saúde e educação de qualidade para todos, técnica e artística, plural, que estimule o pensar crítico e a ação participativa. Mas tanto eu quanto a nação precisamos que a criatividade e iniciativa individual seja estimulada. Detalhe que toca na razão que nos reste: todos querem para si um mundo liberal, mesmo aqueles que tentam depreciá-lo denominando-o como “capitalista selvagem”. Tanto que os poderosos líderes dessas extremadas ideologias viajam e enviam seus filhos para países não extremistas (o oposto de suas mentes), e garantem para si próprios o usufruto de privilégios amplos, tipicamente burgueses, incluindo um Iphone, claro. Impossível (tentem!) explicar como podem tantos artistas e intelectuais em geral, músicos e poetas, pensadores e escritores, filósofos, pintores e escultores, atores e humoristas, todo este criativo time de pessoas intrinsecamente rebeldes, contestadoras, inovadoras e iconoclastas, como podem, repito, se deixarem manipular ou aderir de modo tão entusiasmado por correntes que quando instaladas sempre têm e terão como primeiro ato de governo cassar sua voz. Muito estranho! Logo eles, que tanto prezam e necessitam vitalmente de liberdade de expressão, que são congenita e obrigatoriamente liberais, incontroláveis e joviais provocadores, dependentes de tolerância e incorrigíveis abridores de mentes e desbravadores do progresso social, parecem infantilmente hipnotizados pela falácia socialistóide. E por quê? A única explicação que parece crível seria que muitos sofrem de uma necessidade de aprovação da turminha de bar, da patota que se pretende demonstrar humilde e compreensiva pregadora da igualdade, movida por um complexo de culpa originado da subconsciente percepção de sua evidente e inegável diferenciação dos mortais comuns, tanto em mérito e contribuição e status social quanto, por vezes, em peso da conta bancária, tudo honestamente construído por seu árduo trabalho e reconhecimento pelo Mercado – e não pelo governo! E, detalhe, saibam que o Partido “Liberal” no Brasil merece aspas, pois não vivencia ideias liberais, tendendo mais a ser conservador politicamente e/ou das “posições” de seus membros. E expondo outra confusão, note-se que a linha dita liberal nos EUA congrega alguns matizes socializantes. Entretanto, não há que se ter tolerância com o intolerável nem com os intolerantes. Será ético fazer negócios com qualquer um, sem importar o caráter? Será coerente rejeitar o trabalho infantil e exigir madeira certificada, e não se opor a negociar com monarquias absolutistas para receber petróleo com sangue? Comprar de ditaduras produtos eletrônicos manufaturados por seres humanos física e mentalmente robotizados? Valerá defender qualquer um desde que seja do “meu lado”, de esquerda ou de direita? Os países democráticos seguirão focando em bons negócios ou haverão de, em bloco, influir nos regimes ditatoriais e monocráticos, prestando concreta solidariedade a seus povos? Ou será que isso não importa, desse que vendam barato? China, Venezuela, Arábia Saudita, Cuba e Coreia do Norte, entre outros, países em que direitos básicos das pessoas são abertamente negados e agredidos, seguirão impunes? A ONU seguirá aceitando e até elogiando, premiando e prestigiando tal nível de anacronismo, audácia e injustiça? Tanta falta de liberdade e tantos destinos alterados! E então, onde fica o empenho pela Igualdade tão manifestada internamente em cada país? Seria dispensada nesse hipócrita e inconsequente mercado de compra e venda? A abertura de mercado de modo algum é um conceito absoluto, e certamente deve ser melhor relativizada. Os interesses mercantis, ideológicos e/ou políticos imediatistas adestram ou castram as lideranças, e hoje carecemos de estadistas que sejam capazes e ousem falar o que o povo precisa ouvir, e não necessariamente o que deseja ouvir; que estudem e saibam esclarecer e convencer o povo a respeito do que possa ser melhor a médio e longo prazo, e não apenas fazer o que o povo acha que sabe e pensa que vai resolver a curto prazo, adiando soluções. Da forma como estamos hoje assistimos a ridícula e frustrada tentativa de rasgar a Ciência, usando seu nome em vão, tracionada por várias correntes – a dos toscos, dos corruptos e dos místicos, num jogo contínuo de palavras vazias, frases de efeito e discursos elaborados por magos do marketing, plenos de dissimulações e subintenções. Numa breve análise de um exemplo da recente lógica de escolha de prioridades e soluções, salta aos olhos dos homens e mulheres de boa vontade e cérebro, o cinismo e a hipocrisia dos que culpavam o governo brasileiro em 2019 pelas queimadas sazonais da Amazônia, crime ambiental que parecia representar ameaça à Humanidade (quase um fim do mundo), tornando-as o principal assunto internacional por meses. Esse tema perdeu qualquer importância agora, esquecido por tantos convenientes desmemoriados, que mudaram o foco para a pandemia causada pelo vírus chinês, esta sim uma real ameaça ao mundo. Mas, e agora? Onde será que se encontra todo aquele ímpeto em condenar? Não será aplicado à China e seu governo comunista, criminoso e mentiroso (três sinônimos), tolerante senão criador da maior destruição já sofrida pela Humanidade? Não virá uma enxurrada de críticas e represálias, minimamente proporcional que seja, ao que fizeram ou deixaram de fazer? Nem uma palavrinha? Não vão exigir que paguem por tudo isto? Não vão propor fortes sanções, boicotes e indenizações? Não vão ocorrer manifestações e pichações nas embaixadas? Nem constrangimentos aos eleitores do presidente títere do partido? Bem, essa última cobrança não teria sentido, por ser de altíssimo risco de morte, mas vai ironicamente inclusa no pacote, certo? A pandemia nos antecipa, enfim, a iminente e inevitável vitória da Razão e da Ciência sobre crenças e ideologias. Adeptos patéticos de esquerda e direita, políticos e midiáticos, e os místicos em geral se mostram confusos, pois perderam o rumo, e se acusam um ao outro, para distrair-nos do que sabem e podem fazer: muito pouco ou nada. Angustiados, perceberam que pela primeira vez estão totalmente nas mãos da Ciência (isenta em sua essência), que tanto tem sido manipulada pelas tais correntes extremistas a favor de suas distopias conflituosas, pois agora ela Ciência se declarou superior, independente e dominante. Aquilo que todos deveriam saber está se tornando senso comum: a cura da pandemia virá através de pesquisas científicas, testes duplo cego, meta-análises e toda a linguagem lógica sobre efeito-placebo e grupo-controle, e tantas outras expressões que deveriam orientar a Humanidade hoje se tornam cada vez mais conhecidas e assumidas como corretas. O pensamento mágico e as variadas, pretensiosas e improváveis terapias holísticas perdem credibilidade, caindo no esquecimento. O pensamento positivo e os apelos aos céus são aplicados na esperança de que se descubra cura, metodologica e cientificamente. Entenderam agora os crentes que as contradições e conflitos entre esquerda e direita são paralisantes, e a divindade, se existe e interfere, se manifestaria sempre indiretamente, dando ao Homem apenas a inteligência, para que este, com criatividade e muito esforço, desvende as regras do Universo imperscrutável e crie um instrumento e uma solução para cada uma das questões que nos aflijam, uma a cada tempo, num sem-fim evolutivo, denominado Progresso. Em suma, milagres, se acontecem, mais do que nunca não podemos nem devemos contar com eles para sobreviver como espécie neste planeta. Hoje cada vez mais cidadãos reconhecem e apelam pela efetiva e rápida ação da Ciência, via Medicina e Biologia. Aos que ainda se mantenham desesperançados sobre nosso país e sobre o mundo, recomenda-se fortemente a leitura de dois livros imprescindíveis a esse novo Tempo: 1) “O Novo Iluminismo”, de Steven Pinker, Editora Companhia das Letras, 2018. Didático e científico, disseca as correntes e se baseia em dados estatísticos para reforçar o que nos deveria ser óbvio: o mundo está cada vez melhor, apesar de todas as crises e riscos – e tolices. Os problemas estão sendo resolvidos, embora haja (sempre) muito a fazer. O queixume e o desânimo denotam apenas falta de informação, comparação e perspectiva histórica, típica dos que tem o privilégio de viver no Século XXI e que ousam reclamar do fraco sinal do wi-fi, da falta de morangos no supermercado nesta semana ou do gosto do medicamento. 2) “O Chamado da Tribo”, de Mario Vargas Llosa, Editora Objetiva, 2018, sabe e mostra bem como romper as correntes e brilhantemente sintetiza e comenta a obra dos principais pensadores liberais, tais como Adam Smith, José Ortega y Gasset, Friedrich Hayek, Karl Popper, Raymond Aron, Isaiah Berlin e Jean-François Revel. A lógica humanista destes mestres é um forte instrumento e resposta às angústias dos que percebem o vazio da teoria e da prática de esquerda e direita. Em resumo, leiam e percebam com alegria e alívio que todos os psico-sociopatas de direita e esquerda e os místicos impositores de suas ideologias e formas de existência, em geral inconsistentes, supersticiosos, magos e mentirosos, morrerão em breve, (não necessariamente de COVID-19), e com eles se dissolverão seus escritos e pregações. Hoje apenas ainda somos obrigados a assistir por mais algum tempo seus gritos desesperados de despedida forçada deste planeta. Que parta com eles a sua mania de se meter (e mal) na vida dos outros e de impor sua visão de mundo como verdade absoluta, insistindo em dividir a Humanidade em grupos antagônicos e hostis, um deles sob seu comando, para sua patética e passageira glória. Os jovens que acordarem, enfim lúcida maioria, construirão e viverão num mundo democrático com maior colaboração e solidariedade – e mais Razão, Humanismo, Ciência e Paz! Marcos Sarvat, médico CRM-RJ 52.37602-2, Rio de Janeiro - sarvat@centroin.com.br – cel-wa: +55-21-999712454 Professor Adjunto de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO Brevis esse laboro et obscurus fio (Esforço-me para ser conciso e torno-me obscuro) – Horácio, 65-8 A.C. Aos que mesmo cobertos de boas razões e intenções, ao aplicá-las perdem as primeiras e desqualificam as segundas: Aos que virão depois de nós por Bertold Brecht (1898-1956)


I

Realmente, eu vivo em tempos tenebrosos.

A palavra sem malícia é tola. Uma testa lisa

Significa só insensibilidade. Aquele que ri,

Ri porque ainda não soube da tétrica nova.

Que tempos são estes,

Em que falar sobre árvores parece ser crime,

Porque impede falar sobre iniquidades.

Aquele que lá atravessa a rua

Provavelmente já está fora do alcance

Dos amigos que estão na miséria.

É verdade. Ainda ganho o meu sustento.

Mas acreditem; Isto é mero acaso.

Nada que faço me autoriza

Comer até saciar minha fome.

Só por acaso fui poupado.

(Quando minha sorte acabar, estarei perdido.)

Eles me dizem: Como e beba e te alegra que tu o podes!

Mas como posso comer e beber se como isto eu tiro,

Do faminto aquilo que como, e se meu copo de água

Faz falta a um sedento?

E ainda assim eu como e bebo.

Eu também gostaria de ser sábio.

Nos velhos livros dizem o que é ser sábio:

Manter-se alheio aos conflitos do mundo

E passar o breve tempo sem medo,

Agir sem violência,

Pagar o mal com o bem,

Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los;

Isto é sábio.

É isto o que não consigo!

É o que chamam sabedoria.

Realmente, eu vivo em tempos tenebrosos.

II

Às cidades vim, no tempo da desordem

Quando a fome dominava.

Junto aos homens eu cheguei, no tempo da revolta

E me revoltei com eles.

Assim passava o tempo

Que na terra me foi dado.

Minha comida, eu comia entre as batalhas.

E dormia entre homens assassinos.

Do amor tratava sem dar-lhe importância

E olhava impaciente a Natureza.

Assim passava o tempo

Que na terra me foi dado.

As ruas em meu tempo conduziam ao brejo.

A fala me denunciava ao açougueiro.

O que podia fazer, era bem pouco. Os governantes

Sem mim estavam mais seguros, presumia,

E assim passava o tempo

Que na terra me foi dado.

As minhas forças eram poucas. A meta

Estava muito longe

Mais claramente perceptível, mesmo que

Quase inatingível para mim.

E assim passava o tempo

Que na terra me foi dado.

III

Vós que emergireis das vagas

Nas quais nós submergimos.

Lembrai-vos,

Quando falardes sobre nossas fraquezas,

Também do tempo tenebroso

Do qual escapastes.

Passávamos nós trocando com mais frequência

Os países do que os sapatos,

Pelas lutas das classes, desesperados,

Quando havia só maldade e nenhum protesto.

E nós sabíamos:

Também o ódio ao vil

Deforma os traços.

Também o furor contra o mal

Deixa a voz rouquenha. Ai, nós

Que queríamos preparar o chão para a gentileza,

Não conseguíamos ser gentis.

Vós, porém, quando chegar o tempo

Em que o homem ao homem dará ajuda,

Lembrai-vos de nós

Com compreensão

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