Sempre foi assim, cada novo ano será melhor. Não nos deixemos influenciar por focos pessimistas, coisa de quem envelhece mal e só enxerga o lado ruim. Claro que alguns sofrem graves perdas, mas globalmente a população tem muito que festejar cada ano. Portanto, nosso clamor racional e emocional deveria ser declarado 365 vezes ao ano, em alto e bom som, que nosso mundo nunca esteve tão bem.
Algo em nossa programação genética nos induz à missão diária de resolver problemas. Todos. Pode-se até ironizar que não ter problemas causa um tédio angustiante, senão mortal. E assim tem sido, há milênios, através de criativas inovações, entre alguns erros, por vezes graves, e muitos acertos incríveis, avançamos sem parar. Daí o fantástico e inegável progresso que hoje vivenciamos, em todos os sentidos.
Curioso alertar que, por sermos seres irrequietos e resolutivos, nos atrai mais a informação sobre “acidentes e falhas”, o que bem explica por que tanto destaque e interesse por notícias ruins e manchetes trágicas, em que maus jornalistas chafurdam exaustivamente, arriscando tomar sombrias nossas mentes e perspectivas.
Há que se ter muita atenção para as distorções estatísticas e cuidado com essa nada sutil indução à impotência e culpa, que vêm seguidas de ansiedade e depressão. Atitude típica de algumas religiões e ideologias que pregam a utopia de que só serás feliz quando toda a humanidade assim estiver. Fora dessa inalcançável meta perfeccionista, nada haveria a comemorar, jamais!? Talvez apenas a luta insana ou a vida após a morte...
Os meios de comunicação refletem essa distorção e a solução psicossocial está em cada um de nós, valorizando as mudanças benéficas que acontecem a cada minuto, e não deixando as eventuais maldades nos desanimarem. Frisemos sempre: Calma, tudo será resolvido, cada coisa a seu tempo. E seguirmos trabalhando, sempre nos perguntando o que podemos propor para resolver essa ou aquela “absurda, injusta e/ou inaceitável situação”.
A fantástica evolução tecnológica e social que hoje vivenciamos há que ser lembrada e sim, aplaudida de pé. É impressionante essa pequena lista selecionada, que devemos muito valorizar:
1. A consciência de respeito mútuo, equidade e igualdade de oportunidades. Sem vinganças.
2. A circulação de pessoas por todo o mundo: nunca houve tanta mobilidade física e econômica.
3. A crescente inclusão das mulheres, dos não-brancos e não-héteros, e PcD em todos os campos.
4. A redução da violência, guerras, massacres e genocídios: acontecem menos, mas divulga-se mais.
5. O fantástico acesso à informação via celular e Internet: ricos e pobres muito mais conectados.
6. O número impressionante de organizações civis ativas fazendo diferença em todo o planeta livre.
7. Redução marcante de pobreza, fome, analfabetismo e mortalidade infantil. 8. Envelhecimento retardado e saudável. Medicina controlando doenças mentais, diabetes e hipertensão, prevenindo e curando cada vez mais câncer, doenças cardíacas e derivadas de maus hábitos.
9. Água tratada e esgoto, que refletem em acentuada redução das doenças infectocontagiosas.
10. Democracia: cada vez mais gente participando e manifestando sua opinião. Daí alguns conflitos...
Ah, dirão, temos muito a aperfeiçoar ou corrigir. Sim, concordamos todos. Busquemos então nos informar mais, debater mais e propor e testar soluções para ampliar os itens acima e abordar melhor outros como os seguintes:
1. Adaptação às novas formas de núcleos familiares e educação infantil.
2. Prevenir e tratar abusos e violência, vícios e compulsões como álcool, drogas, bets, etc, etc.
3. Realinhar o uso das redes sociais e suas irrelevâncias, que aproximam os distantes e afastam os próximos.
4. Aperfeiçoar a qualidade do voto e compatibilizar desejos da maioria com direitos das minorias.
5. Vacinar nosso espírito contra políticos dissimulados, corruptos, demagogos e populistas.
6. Valorizar e investir em leitura, criatividade, iniciativa e empreendedorismo. Com Arte e bom humor!
7. Exercer a caridade gerando formação e trabalho, produtividade, competitividade e autonomia.
8. Analisar a realidade. Reduzir os revisionismos históricos. Pensar sugestões. Apontar soluções.
9. Adotar a tolerância, corrigir os intolerantes, acolher a diversidade e punir a transgressão.
10. Exorcizar os fanáticos e cancelar os autoritários e violentos. Antes que a ameaça nuclear traga o caos...
Nossa escolha é coletiva – e diária. E cabe a cada um assumir e colaborar do jeito que puder para que sigamos aperfeiçoando a construção de um mundo cada vez melhor. Cientes de que já foi muito pior, agradeçamos aos nossos antepassados por todas as maravilhas que hoje podemos usufruir!
Marcos Sarvat, médico, professor associado da UNIRIO
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